GRANDES LIVROS é uma série de 12 documentários, com 50
minutos cada, narrados por Diogo Infante que pretende contribuir para a
promoção da leitura das grandes obras da literatura portuguesa junto de todas
as faixas etárias de falantes de português. Cada episódio conta com a
participação dos principais especialistas na obra e/ou no autor em análise.
O conceito GRANDES LIVROS assenta na análise da obra mais emblemática de um escritor português: a estória, o contexto histórico, a importância que teve/tem, a história do autor. A seleção obedece ao seguinte critério: um livro por autor; autores portugueses falecidos; obras passíveis de serem abordadas em televisão e apelarem a uma grande faixa da população.
Episódio 1: Os Maias, Eça de Queirós
A história de uma família portuguesa, em finais do século XIX, tornou-se uma das obras mais consagradas a nível mundial. Do punho de Eça de Queirós, numa escrita realista que apontava todos os “podres” dos protagonistas, seguimos os Maias. Nas figuras do patriarca Afonso, do traído Pedro e do diletante Carlos apresentam-se três gerações de uma família de elevado estatuto nas lides lisboetas.
O palácio do Ramalhete, o Teatro da Trindade e Sintra são alguns dos palcos da ação. Nestes lugares desfilam personagens-tipo de um tempo “queirosiano”: mulheres fatais, políticos corruptos, jovens utópicos que assumem um papel de mudança no futuro do país, para, no fim, nada terem feito.
O conceito GRANDES LIVROS assenta na análise da obra mais emblemática de um escritor português: a estória, o contexto histórico, a importância que teve/tem, a história do autor. A seleção obedece ao seguinte critério: um livro por autor; autores portugueses falecidos; obras passíveis de serem abordadas em televisão e apelarem a uma grande faixa da população.
Episódio 1: Os Maias, Eça de Queirós
A história de uma família portuguesa, em finais do século XIX, tornou-se uma das obras mais consagradas a nível mundial. Do punho de Eça de Queirós, numa escrita realista que apontava todos os “podres” dos protagonistas, seguimos os Maias. Nas figuras do patriarca Afonso, do traído Pedro e do diletante Carlos apresentam-se três gerações de uma família de elevado estatuto nas lides lisboetas.
O palácio do Ramalhete, o Teatro da Trindade e Sintra são alguns dos palcos da ação. Nestes lugares desfilam personagens-tipo de um tempo “queirosiano”: mulheres fatais, políticos corruptos, jovens utópicos que assumem um papel de mudança no futuro do país, para, no fim, nada terem feito.
Os Maias from Companhia de Ideias
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Episódio 2: Peregrinação, Fernão Mendes
Pinto
Na «Peregrinação» o autor narra a sua vida, de
aventuras e desventuras, e as suas viagens pelo Oriente, ao longo de 21 anos,
em relatos de enorme riqueza, com descrições muito pormenorizadas dos povos,
das línguas e das terras por onde passou. Estas descrições revelam uma enorme
admiração e fascínio pela grandiosidade dessas civilizações. Chega, inclusive,
a recorrer a personagens orientais para tecer críticas à cobiça e ambição dos
mercadores e militares ocidentais. Por outro lado, no Ocidente da época ninguém
acreditava que o Oriente fosse assim tão rico e tão diferente quanto a
tradições culturais. Por estes factos, o autor é acusado por muitos de exagero,
tendo ficado célebre o dito popular «Fernão, Mentes? Minto!» Hoje é consensual
o valor histórico e literário da sua obra, feita de elementos verídicos e de
ficção. Suspeita-se que algumas partes dos seus escritos tenham sido destruídas
pelos Jesuítas aquando da Inquisição.
À época da sua publicação, «Peregrinação» torna-se um sucesso, um pouco por toda a Europa, pelos conhecimentos amplos sobre o Oriente. Nos anos seguintes, teve dezanove edições, em seis línguas.
À época da sua publicação, «Peregrinação» torna-se um sucesso, um pouco por toda a Europa, pelos conhecimentos amplos sobre o Oriente. Nos anos seguintes, teve dezanove edições, em seis línguas.
Peregrinação
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Episódio 3: O Delfim, José Cardoso Pires
Portugal, anos 60. Sem saber como, um livro escapou às
teias da censura e mostrou um país podre, cheio de senhores feudais que dominavam
o seu território com punho de ferro. Um deles é o senhor Engenheiro Tomás da
Palma Bravo. Ou o Infante, o Delfim, como lhe chamavam os habitantes da Gafeira
ou as prostitutas de Lisboa que ele visitava com frequência. Mas voltemos ao
livro.
Em 1968, José Cardoso Pires lançava ao público O Delfim, um policial, um retrato de costumes, uma alegoria do Portugal minado pelo regime salazarista. Existe um crime, duas mortes e uma investigação levada a cabo por quem nos narra a história. Alguém que já conheceu os intervenientes na tragédia, alguém que ouviu o Infante falar de mulheres e de traição. Alguém que, numa busca constante, não nos revela qualquer culpado.
E depois, como o epicentro de uma comunidade que sobrevive das bênçãos de um déspota isolado, que renega a mulher estéril que mantém prisioneira em casa, surge a imagem misteriosa da Lagoa da Gafeira. Dono desse pedaço de água, onde o detetive parece ouvir latidos sombrios de um mastim negro de dentes arreganhados, Tomás da Palma Bravo descobriu Maria das Mercês. A mulher que, não se tem a certeza, cometeu adultério com o preto e maneta Domingos, surge a boiar na Lagoa, é enterrada como “puta” e assombra as páginas deste livro imenso.
Em 1968, José Cardoso Pires lançava ao público O Delfim, um policial, um retrato de costumes, uma alegoria do Portugal minado pelo regime salazarista. Existe um crime, duas mortes e uma investigação levada a cabo por quem nos narra a história. Alguém que já conheceu os intervenientes na tragédia, alguém que ouviu o Infante falar de mulheres e de traição. Alguém que, numa busca constante, não nos revela qualquer culpado.
E depois, como o epicentro de uma comunidade que sobrevive das bênçãos de um déspota isolado, que renega a mulher estéril que mantém prisioneira em casa, surge a imagem misteriosa da Lagoa da Gafeira. Dono desse pedaço de água, onde o detetive parece ouvir latidos sombrios de um mastim negro de dentes arreganhados, Tomás da Palma Bravo descobriu Maria das Mercês. A mulher que, não se tem a certeza, cometeu adultério com o preto e maneta Domingos, surge a boiar na Lagoa, é enterrada como “puta” e assombra as páginas deste livro imenso.
O Delfim from Companhia de Ideias
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Episódio 4: Os Lusíadas, Luís de Camões
É só um dos versos mais conhecidos da literatura
portuguesa: “As armas e os barões assinalados…” Linha de abertura da maior
epopeia literária, a obra-prima de Luís Vaz de Camões, o grande poema
português.
Publicado em 1572, este livro é constituído por dez cantos, dez partes que narram os feitos históricos dos portugueses. Através da viagem marítima de Vasco da Gama para a Índia e das aventuras dos marinheiros nas Descobertas são entrelaçados os mitos, as figuras e os momentos que definem a História de Portugal.
Inês de Castro, D. Afonso Henriques, Nuno Álvares Pereira e tantos outros passeiam pelas estrofes e compõem um quadro grandioso de exaltação dos descendentes de Luso, os portugueses.
Na linha das epopeias clássicas, tais como a Odisseia ou a Eneida, a obra está dividida em quatro partes: Proposição, Invocação, Dedicatória e Narração. As três primeiras condensam-se no Canto I, com o maior excerto a mencionar D. Sebastião, o jovem rei a quem a obra foi dedicada.
Polémicas à parte, e se contarmos que o livro foi aprovado pelos censores do Santo Ofício, braço-direito da Inquisição, mesmo com as lascivas descrições do episódio da “Ilha dos Amores”, este continua a ser um dos textos mais importantes da literatura portuguesa.
O Velho do Restelo ou o gigante Adamastor, mais que figuras míticas de um poema, já se tornaram referências desta cultura que é a nossa… e que Camões cantou.
Publicado em 1572, este livro é constituído por dez cantos, dez partes que narram os feitos históricos dos portugueses. Através da viagem marítima de Vasco da Gama para a Índia e das aventuras dos marinheiros nas Descobertas são entrelaçados os mitos, as figuras e os momentos que definem a História de Portugal.
Inês de Castro, D. Afonso Henriques, Nuno Álvares Pereira e tantos outros passeiam pelas estrofes e compõem um quadro grandioso de exaltação dos descendentes de Luso, os portugueses.
Na linha das epopeias clássicas, tais como a Odisseia ou a Eneida, a obra está dividida em quatro partes: Proposição, Invocação, Dedicatória e Narração. As três primeiras condensam-se no Canto I, com o maior excerto a mencionar D. Sebastião, o jovem rei a quem a obra foi dedicada.
Polémicas à parte, e se contarmos que o livro foi aprovado pelos censores do Santo Ofício, braço-direito da Inquisição, mesmo com as lascivas descrições do episódio da “Ilha dos Amores”, este continua a ser um dos textos mais importantes da literatura portuguesa.
O Velho do Restelo ou o gigante Adamastor, mais que figuras míticas de um poema, já se tornaram referências desta cultura que é a nossa… e que Camões cantou.
Lusíadas
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Episódio 5: Amor de Perdição, Camilo
Castelo Branco
Publicado em 1842, e se crermos nos testemunhos
escritos de Camilo, o livro foi escrito nos “catorze dias mais tormentosos” da
sua vida. Preso na Cadeia da Relação do Porto por ter “copulado com mulher
alheia”, a sua Ana Plácido, o autor buscou na sua genealogia a inspiração para
esta versão portuguesa de “Romeu e Julieta”. O seu tio Simão havia conhecido os
calabouços daquela prisão e também “amou, perdeu-se e morreu amando”.
Num leque de personagens-tipo do Romantismo, Camilo desenhou um drama intemporal, com morte, devaneios, belíssimas cartas que extravasam os sentimentos do jovem casal apaixonado e duas famílias rivais que não toleram o romance. Com o auxílio de João da Cruz, de sua filha Mariana e de outras figuras de destaque, a intriga, a desgraça e o amor negado percorrem as páginas desta obra. No fim, só a morte permite que eles se encontrem, finalmente, juntos.
Num leque de personagens-tipo do Romantismo, Camilo desenhou um drama intemporal, com morte, devaneios, belíssimas cartas que extravasam os sentimentos do jovem casal apaixonado e duas famílias rivais que não toleram o romance. Com o auxílio de João da Cruz, de sua filha Mariana e de outras figuras de destaque, a intriga, a desgraça e o amor negado percorrem as páginas desta obra. No fim, só a morte permite que eles se encontrem, finalmente, juntos.
Amor de
Perdição from Companhia de Ideias
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Episódio 6: Navegações, Sophia de Mello
Breyner
Navegações é o décimo primeiro livro de poesia de
Sophia de Mello Breyner Andresen – a primeira edição foi publicada, em 1983,
pela Imprensa Nacional Casa da Moeda. Os poemas que o integram surgem na
sequência de um convite, endereçado pelo Conselho da Revolução, para a
participação na Celebração do Dia de Camões, em Macau (1977).
Nessa primeira viagem que faz ao Oriente, Sophia deslumbra-se com a beleza, as cores e a cultura daquelas paradisíacas paragens. No discurso proferido aquando da entrega do Prémio do Centro Português da Associação de Críticos Literários (1984), Sophia recorda as primeiras impressões que teve daquele território, ainda a bordo do avião, em pleno voo sobre o Vietname: “Pensei naqueles que ali chegaram sem aviso prévio, sem mapas, ou relatos, ou desenhos ou fotografias que os prevenissem do que iam ver. Escrevi os primeiros poemas simultaneamente a partir da minha imaginação, desse primeiro olhar, e a partir do meu próprio maravilhamento.” Aliás, a autora reconhece que “à medida que os poemas iam surgindo ia-se decidindo em mim a vontade de os editar ao lado dos mapas da época, os mapas onde ainda é visível o espanto do olhar inicial, o deslumbramento perante a diferença, perante a multiplicidade do real, a veemência do real mais belo que o imaginado (…)”.
Em «Navegações» os Descobrimentos e os descobridores portugueses são invocados e revisitados. E o mar é o elemento decisivo, central, que possibilita o conhecimento intemporal. “Para mim o tema das Navegações não é apenas o feito, a gesta, mas fundamentalmente o olhar, aquilo a que os gregos chamavam aletheia, a desocultação, o descobrimento. Aquele olhar que às vezes está pintado à proa dos barcos.”
Nessa primeira viagem que faz ao Oriente, Sophia deslumbra-se com a beleza, as cores e a cultura daquelas paradisíacas paragens. No discurso proferido aquando da entrega do Prémio do Centro Português da Associação de Críticos Literários (1984), Sophia recorda as primeiras impressões que teve daquele território, ainda a bordo do avião, em pleno voo sobre o Vietname: “Pensei naqueles que ali chegaram sem aviso prévio, sem mapas, ou relatos, ou desenhos ou fotografias que os prevenissem do que iam ver. Escrevi os primeiros poemas simultaneamente a partir da minha imaginação, desse primeiro olhar, e a partir do meu próprio maravilhamento.” Aliás, a autora reconhece que “à medida que os poemas iam surgindo ia-se decidindo em mim a vontade de os editar ao lado dos mapas da época, os mapas onde ainda é visível o espanto do olhar inicial, o deslumbramento perante a diferença, perante a multiplicidade do real, a veemência do real mais belo que o imaginado (…)”.
Em «Navegações» os Descobrimentos e os descobridores portugueses são invocados e revisitados. E o mar é o elemento decisivo, central, que possibilita o conhecimento intemporal. “Para mim o tema das Navegações não é apenas o feito, a gesta, mas fundamentalmente o olhar, aquilo a que os gregos chamavam aletheia, a desocultação, o descobrimento. Aquele olhar que às vezes está pintado à proa dos barcos.”
Navegações
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Episódio 7: Sermão de Santo António aos
Peixes, Padre António Vieira
Organizado em seis capítulos, o sermão divide-se em três partes: o Exórdio (Cap. I); a Exposição e a Confirmação (Cap. II, III, IV e V); e a Peroração (Cap. VI).
No Exórdio, Padre António Vieira apresenta o conceito predicável – “Vós sois o sal da Terra” – e explica as razões pelas quais a terra está tão corrupta. E levanta várias hipóteses: ou a culpa está no sal (pregadores), ou na terra (ouvintes). Se a responsabilidade está no sal, é porque os pregadores não pregam a verdadeira doutrina, ou porque dizem uma coisa e fazem outra, ou porque se pregam a si e não a Cristo. Se a culpa está na terra, é porque os ouvintes não querem receber a doutrina, ou antes imitam os pregadores e não o que eles dizem, ou porque servem os seus apetites e não os de Cristo.
Parte do princípio que a terra está corrupta e que a culpa é dos ouvintes. Consegue isto, uma vez que o sermão é proferido no dia de Santo António, aproveitando assim o exemplo deste. Santo António não obteve resultados da sua pregação e os homens até o quiseram matar, mas em vez de desistir resolveu pregar aos peixes. Vendo-se nessa posição, padre António Viera resolve seguir o exemplo inspirador do seu homónimo canonizado.
Pregado no Maranhão (Brasil), a 13 de junho de 1654, o
Sermão de Santo António aos Peixes é um dos textos mais conhecidos de padre
António Vieira. Após a restauração da independência de Portugal face à coroa
espanhola (1640), o sacerdote vem a Lisboa interceder junto do rei para que
fossem criadas leis que garantissem um conjunto de direitos básicos aos índios
brasileiros, vítimas da exploração e da ganância por parte dos colonos brancos.
Organizado em seis capítulos, o sermão divide-se em três partes: o Exórdio (Cap. I); a Exposição e a Confirmação (Cap. II, III, IV e V); e a Peroração (Cap. VI).
No Exórdio, Padre António Vieira apresenta o conceito predicável – “Vós sois o sal da Terra” – e explica as razões pelas quais a terra está tão corrupta. E levanta várias hipóteses: ou a culpa está no sal (pregadores), ou na terra (ouvintes). Se a responsabilidade está no sal, é porque os pregadores não pregam a verdadeira doutrina, ou porque dizem uma coisa e fazem outra, ou porque se pregam a si e não a Cristo. Se a culpa está na terra, é porque os ouvintes não querem receber a doutrina, ou antes imitam os pregadores e não o que eles dizem, ou porque servem os seus apetites e não os de Cristo.
Parte do princípio que a terra está corrupta e que a culpa é dos ouvintes. Consegue isto, uma vez que o sermão é proferido no dia de Santo António, aproveitando assim o exemplo deste. Santo António não obteve resultados da sua pregação e os homens até o quiseram matar, mas em vez de desistir resolveu pregar aos peixes. Vendo-se nessa posição, padre António Viera resolve seguir o exemplo inspirador do seu homónimo canonizado.
Episódio 8: Aparição, Vergílio Ferreira
Um homem chega a Évora… e nada será igual. Alberto
Soares traz a dor recente da morte do pai, as dúvidas sobre a sua própria
existência e a ignorância sobre a vida pacata da branca cidade alentejana. A
partir desta chegada sombria, do início das aulas no liceu, dos conhecimentos
que trava no ano que lá passa, desenrola-se a questionação do papel do homem.
Vergílio Ferreira continuou neste livro a sua “quase” obra única: uma espécie de manifesto existencialista, de eterna colocação de perguntas sobre a função da humanidade neste território e da ausência de um deus que amenizasse a não-descoberta.
Publicado em 1959, Aparição permanece um dos romances mais importantes do século XX português. O quadro que pinta da cidade alentejana, das suas gentes e dos seus costumes continua a fazer sentido e a encontrar semelhanças com a atualidade. Vergílio Ferreira também lecionou em Évora e os paralelismos autobiográficos sucedem-se, numa interligação com o papel de difusor de uma mensagem transcendental que Alberto desempenha. Em redor, a compor a moldura, temos Bexiguinha, Ana, o Doutor Moura, a Madame, o Bailote, a Cristina e uma Sofia que não cabe naquela época, tudo personagens que se imiscuíram na literatura e se repercutem na realidade.
Afinal, a questão continua cada vez mais presente: quem sou eu?
Vergílio Ferreira continuou neste livro a sua “quase” obra única: uma espécie de manifesto existencialista, de eterna colocação de perguntas sobre a função da humanidade neste território e da ausência de um deus que amenizasse a não-descoberta.
Publicado em 1959, Aparição permanece um dos romances mais importantes do século XX português. O quadro que pinta da cidade alentejana, das suas gentes e dos seus costumes continua a fazer sentido e a encontrar semelhanças com a atualidade. Vergílio Ferreira também lecionou em Évora e os paralelismos autobiográficos sucedem-se, numa interligação com o papel de difusor de uma mensagem transcendental que Alberto desempenha. Em redor, a compor a moldura, temos Bexiguinha, Ana, o Doutor Moura, a Madame, o Bailote, a Cristina e uma Sofia que não cabe naquela época, tudo personagens que se imiscuíram na literatura e se repercutem na realidade.
Afinal, a questão continua cada vez mais presente: quem sou eu?
Aparição
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Episódio 9: Livro do Desassossego,
Fernando Pessoa
O «Livro do Desassossego» resulta da junção de textos
avulsos encontrados no espólio de Fernando Pessoa. Bernardo Soares é o autor –
embora algumas edições atribuam a coautoria do livro a Vicente Guedes, um outro
“eu” de Pessoa. A organização desses escritos, fragmentados em folhas soltas –
muitas delas incluindo as iniciais L. do D. –, deu origem a edições distintas
do «Livro do Desassossego», que variam consoante os critérios utilizados pelo
editor. A primeira data de 1982 – quase 50 anos após a morte de Pessoa. Alguns
autores defendem a publicação – “ideal” – do «Livro do Desassossego» em versão
folhas soltas, sem encadernação, o que, segundo os mesmos, permitiria manter a
ideia original de Pessoa, deixando a cargo do leitor o encadeamento da leitura.
O «Livro do Desassossego» assemelha-se a um diário, a um blogue. Baseia-se em anotações fruto das vivências, interrogações ou reflexões. Esta característica torna o livro singular, já que não tem uma narrativa definida, com princípio, meio e fim. Esse facto não diminui a obra de Pessoa, antes pelo contrário. Imprime-lhe, reconhecidamente, um fulgor, apenas ao alcance dos grandes mestres da escrita.
O «Livro do Desassossego» assemelha-se a um diário, a um blogue. Baseia-se em anotações fruto das vivências, interrogações ou reflexões. Esta característica torna o livro singular, já que não tem uma narrativa definida, com princípio, meio e fim. Esse facto não diminui a obra de Pessoa, antes pelo contrário. Imprime-lhe, reconhecidamente, um fulgor, apenas ao alcance dos grandes mestres da escrita.
Episódio 10: Sinais de Fogo, Jorge de
Sena
O verão de 1936 ficaria marcado pelo eclodir da Guerra Civil Espanhola. Na Figueira da Foz, que era amplamente frequentada por turistas espanhóis, o impacto desse trágico momento foi profundo.
A cidade, as praias e aqueles que todos os anos escolhiam a Figueira como destino de férias, a guerra apanhou todos desprevenidos e a adaptação a essa realidade não seria fácil, num país em que a ditadura salazarista grassava.
Jorge foi para a casa dos tios aproveitar o tempo livre de aulas e reencontrar os seus amigos de todos os verões, numa atmosfera separada da Lisboa que deixava para trás. Nos cafés da cidade explodem discussões entre franquistas e radicalistas espanhóis, o tio mantém dois clandestinos em casa e as amizades estão diferentes. Rodrigues, Ramos, Macedo e a bela Mercedes já não são os mesmos do ano anterior. Ou será Jorge que está a mudar? Entre a descoberta da sexualidade e a entrada na idade adulta, num território que sente próxima a guerra que decorre além fronteira, os episódios são-nos narrados pelo jovem lisboeta, na primeira pessoa, numa autodescoberta por vezes cruel.
Esta obra é parte do grande projeto de ficção (Monte Cativo) que Jorge de Sena nunca chegou a acabar, e mesmo a sua publicação foi póstuma. As cenas descritas, as palavras usadas, as dúvidas presentes ainda hoje provocam reações apaixonadas e, ao longo da leitura, surge sempre uma comparação entre o escritor e aquele (também) Jorge que, entre fogos acesos, se descobre poeta.
O verão de 1936 ficaria marcado pelo eclodir da Guerra Civil Espanhola. Na Figueira da Foz, que era amplamente frequentada por turistas espanhóis, o impacto desse trágico momento foi profundo.
A cidade, as praias e aqueles que todos os anos escolhiam a Figueira como destino de férias, a guerra apanhou todos desprevenidos e a adaptação a essa realidade não seria fácil, num país em que a ditadura salazarista grassava.
Jorge foi para a casa dos tios aproveitar o tempo livre de aulas e reencontrar os seus amigos de todos os verões, numa atmosfera separada da Lisboa que deixava para trás. Nos cafés da cidade explodem discussões entre franquistas e radicalistas espanhóis, o tio mantém dois clandestinos em casa e as amizades estão diferentes. Rodrigues, Ramos, Macedo e a bela Mercedes já não são os mesmos do ano anterior. Ou será Jorge que está a mudar? Entre a descoberta da sexualidade e a entrada na idade adulta, num território que sente próxima a guerra que decorre além fronteira, os episódios são-nos narrados pelo jovem lisboeta, na primeira pessoa, numa autodescoberta por vezes cruel.
Esta obra é parte do grande projeto de ficção (Monte Cativo) que Jorge de Sena nunca chegou a acabar, e mesmo a sua publicação foi póstuma. As cenas descritas, as palavras usadas, as dúvidas presentes ainda hoje provocam reações apaixonadas e, ao longo da leitura, surge sempre uma comparação entre o escritor e aquele (também) Jorge que, entre fogos acesos, se descobre poeta.
Sinais de fogo from
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Episódio 11: Viagens na Minha Terra,
Almeida Garrett
A “história” começa com a partida de Lisboa de um sujeito-narrador (identificado como Almeida Garrett) rumo a Santarém, para uns dias de descanso na casa de seu amigo Passos Manuel. A partir daqui, e com descrições esplendorosas de certas áreas de Lisboa que hoje já não se descobrem, o narrador segue o seu trajeto… de barco, de charrete e até às costas de um simpático burrico. Enquanto viaja, também a sua mente vagueia pelo passado, pelo presente e pelo futuro. São estas as outras “Viagens” que o título aponta: um olhar sobre o Portugal de oitocentos, sobre a sociedade nacional, sobre a política corrupta, sobre o desencanto final do liberalismo. Entre as observações surge um paradoxo inesquecível: os “frades” e os “barões”, quais Sancho Pança e Dom Quixote lusitanos, que, entre si, tomam as rédeas do país e incutem o progresso. Os “frades” representam o conservadorismo, a tradição, os velhos e inquebráveis costumes. Os “barões” são os acomodados, os antigos lutadores que, abdicando dos seus ideais, se entregam ao vício, ao diletantismo e à preguiça da demagogia. Um sem o outro não existem, um sem o outro não fazem o país caminhar.
Mas há muito mais nas páginas de “Viagens na Minha Terra”.
Publicada em 1846, a obra Viagens na Minha Terra
continua a ser um texto de difícil definição. Exemplo magistral do talento de
Almeida Garrett, este livro condensa vários estilos literários e um dos
retratos mais realistas do Portugal do século XIX. Narrativa de viagens,
manifesto político, crónica jornalística, romance, tudo cabe dentro nestas
páginas.
A “história” começa com a partida de Lisboa de um sujeito-narrador (identificado como Almeida Garrett) rumo a Santarém, para uns dias de descanso na casa de seu amigo Passos Manuel. A partir daqui, e com descrições esplendorosas de certas áreas de Lisboa que hoje já não se descobrem, o narrador segue o seu trajeto… de barco, de charrete e até às costas de um simpático burrico. Enquanto viaja, também a sua mente vagueia pelo passado, pelo presente e pelo futuro. São estas as outras “Viagens” que o título aponta: um olhar sobre o Portugal de oitocentos, sobre a sociedade nacional, sobre a política corrupta, sobre o desencanto final do liberalismo. Entre as observações surge um paradoxo inesquecível: os “frades” e os “barões”, quais Sancho Pança e Dom Quixote lusitanos, que, entre si, tomam as rédeas do país e incutem o progresso. Os “frades” representam o conservadorismo, a tradição, os velhos e inquebráveis costumes. Os “barões” são os acomodados, os antigos lutadores que, abdicando dos seus ideais, se entregam ao vício, ao diletantismo e à preguiça da demagogia. Um sem o outro não existem, um sem o outro não fazem o país caminhar.
Mas há muito mais nas páginas de “Viagens na Minha Terra”.
Episódio 12: Mau Tempo no Canal,
Vitorino Nemésio
Mau Tempo no Canal é um romance trabalhado desde 1939 e publicado em 1949.
A ação decorre nas ilhas do Faial, Terceira, Pico e na ilha de São Jorge entre 1917 e 1919 e retrata a sociedade açoriana, mais concretamente, a sociedade estratificada da cidade da Horta, local onde decorre a intriga principal e onde Vitorino Nemésio se encontra nesta altura da sua vida.
O livro começa com um namoro entre Margarida, filha de uma família aristocrática à beira da falência, e João Garcia – filho de Januário, pequenos burgueses com talento para o negócio mas escorraçados pelos primeiros, os Clark/Dulmo.
O pai abusivo de Margarida, Diogo, propõe-lhe que case com o tio Roberto, que virá de Londres e que, rico ainda, poderá salvar da desgraça os fidalgos arruinados seus parentes. Entretanto, Januário, pai de João, congemina vinganças contra os Clark/Dulmo que tanto o despeitaram…
Literalmente pelo meio, está o canal do título, o braço de mar que divide as ilhas do Faial e do Pico, que divide os proprietários e novos-ricos da Horta dos pobres, populares e simples baleeiros do Pico, com quem Margarida dialoga na mesma pronúncia, no mesmo sotaque, ao longo do romance.
Mau Tempo no Canal é um romance trabalhado desde 1939 e publicado em 1949.
A ação decorre nas ilhas do Faial, Terceira, Pico e na ilha de São Jorge entre 1917 e 1919 e retrata a sociedade açoriana, mais concretamente, a sociedade estratificada da cidade da Horta, local onde decorre a intriga principal e onde Vitorino Nemésio se encontra nesta altura da sua vida.
O livro começa com um namoro entre Margarida, filha de uma família aristocrática à beira da falência, e João Garcia – filho de Januário, pequenos burgueses com talento para o negócio mas escorraçados pelos primeiros, os Clark/Dulmo.
O pai abusivo de Margarida, Diogo, propõe-lhe que case com o tio Roberto, que virá de Londres e que, rico ainda, poderá salvar da desgraça os fidalgos arruinados seus parentes. Entretanto, Januário, pai de João, congemina vinganças contra os Clark/Dulmo que tanto o despeitaram…
Literalmente pelo meio, está o canal do título, o braço de mar que divide as ilhas do Faial e do Pico, que divide os proprietários e novos-ricos da Horta dos pobres, populares e simples baleeiros do Pico, com quem Margarida dialoga na mesma pronúncia, no mesmo sotaque, ao longo do romance.
Mau Tempo no Canal
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